sábado, 24 de agosto de 2013

Momentos épicos 4 - Buáááááááá!!!

(Atenção, não leia isso se você não tiver terminado o livro 6)
Irina em seus derradeiros momentos :'(
Não que isso seja um momento épico, mas com certeza ninguém se esquecerá da Irina depois disso, né?
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Livro 6, capítulo 25, pág 216.

No começo, ela achou que ainda estava ouvindo o som das folhas lá fora. O ruído era muito fraco. Ela mudou de lado e sentiu que estava voltando a adormecer. Ainda sentia o cheiro esfumaçado do jantar...
Ela sentou-se. Agora o cheiro estava mais forte. Ela viu os filetes de fumaça que se retorciam ao luar.
Seu corpo foi tomado pelo pânico, mas ela não conseguia se mexer. Estava vendo outra noite, outro tempo.
Fogo. Amy segura a mão da mãe. Ela chora enquanto as duas descem a escada correndo até o térreo. "Tire as crianças daqui", o pai dela grita. Ele está em seu gabinete, puxando livros das prateleiras. Procurando alguma coisa... "Papai!", ela grita. Ela estende os braços e ele para por um instante. "Meu anjo", ele diz, "vai com a mamãe".
"Não!" Ela funga enquanto a mãe a puxa para longe. "Não! Papai!"
"Arthur!", a mãe dela grita. Mas ela continua andando com Amy e Dan.
O ar fresco da noite, a grama úmida roçando em suas pernas nuas. Sua mãe se debruça sobre ela. Segura o rosto de Amy nas mãos. "Olhe pra mim", a mãe dela diz, como sempre faz quando quer que Amy preste muita atenção. "Tome conta de seu irmão, eu amo vocês." Amy grita, implora para ela voltar, enquanto a mãe volta correndo para dentro da casa em chamas...
Amy estava envolvida na lembrança de maneira tão intensa que só se deu conta de que aquilo não era um sonho quando começou a tossir. A casa estava pegando fogo!
Alistair apareceu no vão da porta. Ela viu as sombras de chamas tremulando em seu rosto e sentiu um calafrio em todo o corpo.
Alistair também estava ali naquela noite.
Ele trazia toalhas úmidas, como as que a mãe dela trouxera naquela noite, tanto tempo atrás. Ele fechou a porta do quarto e enfiou a toalha molhada na fresta. Então, Alistair dobrou o corpo, tossindo.
Ele estava parado perto da lareira, o rosto encoberto de sombras. Calças perfeitamente engomadas. Terno cinza, gravata amarela. Tossiu educadamente.
― Vamos manter a calma. Só viemos aqui buscar o que é nosso.
Dan ficou sentado na cama, tossindo. O som aflito ajudou Amy a se mexer.
Ela jogou a colcha longe.
Alistair correu na direção de Dan e apertou a toalha molhada em seu rosto. Depois passou um braço ao redor dele e começou a conduzi-lo na direção da janela.
— Depressa! — Alistair gritou para Amy por cima do ombro.
Quando ela chegou à janela, viu a fumaça que brotava de baixo. Olhou para trás e deparou com a cena apavorante da fumaça entrando pelas frestas em volta da porta fechada. Eles não podiam fugir por ali.
— O parapeito — apontou Alistair.
Embaixo da janela havia um parapeito largo o bastante para uma pessoa ficar de pé. Ela ouviu o som do vidro se estilhaçando quando a janela do quarto ao lado explodiu. Alistair saiu para o parapeito e estendeu a mão para Dan.
— Venha. O vento está soprando a fumaça para o outro lado. Aqui fora você pode respirar.
Dan também saiu no parapeito. Engoliu em seco ao sentir o ar fresco. Então, Amy saiu. A parede às suas costas estava quente.
Amy olhou para baixo. O chão estava coberto de entulho de construção. Rolos de arame retorcido, concreto, pregos, emaranhados de hastes cobertos de ferrugem. Não havia nenhum lugar desocupado onde eles pudessem aterrissar. Mesmo se conseguissem sobreviver à queda, seriam atravessados pelos objetos pontiagudos. A respiração de Dan era pesada e difícil. Alistair o mantinha seguro em seu braço. As labaredas gemiam. Ninguém estava vindo ajudar. Eles não ouviam sirenes.
— Vou pular — avisou Alistair. — Quem sabe consigo achar uma escada ou algo assim. Vou dar um jeito de fazer vocês descerem.
— Você não pode pular! — Amy gritou. — Vai morrer!
Ele sorriu ao encostar de leve no rosto dela.
— É nossa única chance.
Alistair segurou-se na parede. Olhou para baixo, procurando um lugar vazio para aterrissar. Não havia nenhum.
— Espera! — Amy segurou a manga dele. — Olha!
— Irina — disse Dan.
A fumaça se enrolava e se dissipava, e eles a viram correndo depressa lá embaixo, suas pernas a todo vapor. Ela tinha na mão uma vara de bambu. Diante de seus olhos atônitos, ela cravou a vara no chão e deu um salto espetacular até o telhado.
Eles ouviram o baque abafado quando ela aterrissou. Amy esticou o corpo, mas mal conseguiu avistar Irina lá em cima. Irina fez a vara deslizar para baixo e a apoiou contra a beirada do telhado.
— Como é mesmo a palavra? — Irina gritou. — Escorregar? Vocês têm que escorregar pela vara. Um por vez, ela não é muito forte.
— Podemos confiar nela? — Alistair perguntou a Dan e Amy.
— Sim — Amy respondeu, mantendo os olhos fixos no rosto de Irina.
Dan foi primeiro. Prendeu as pernas em volta da vara e escorregou. Assim que ele encostou os pés no chão, Amy respirou fundo de alívio.
— Sua vez, Amy — disse Alistair.
Amy virou-se e pôs as mãos na vara. Olhou para Irina lá em cima, que estava deitada de bruços no telhado, mantendo firme a vara com as duas mãos. Irina fez uma careta, e Amy viu que um de seus dedos estava vermelho e inchado.
— Espere. Antes de você ir — disse Irina — pegue isto.
Ela estendeu alguma coisa. Amy levantou o braço. O colar de Grace caiu na palma de sua mão.
— Isabel fez isso de novo — Irina explicou. — Da primeira vez, eu fugi. Mas não desta vez. Desta vez, não vou deixar que ela consiga o que quer. Agora... tudo depende de você e de Dan. Vá!
A força das palavras de Irina fez Amy entrar em ação. Ela agarrou a vara de bambu. Estava quente ao toque de suas mãos, mas ela desceu escorregando.
Ela olhou para Alistair lá em cima. Ele cumprimentou Irina com um aceno, depois agarrou a vara e recuou. Amy viu a fumaça subindo em espirais. A vara estava começando a pegar fogo. Alistair escorregou depressa, pulando uns poucos metros antes do chão.
A vara ardia em chamas. Lentamente, ela desabou. Amy, Dan e Alistair pularam para sair do caminho quando a vara se estatelou a poucos centímetros deles.
— Precisamos achar outra vara! — Alistair gritou.
Eles se esforçaram para desviar os olhos da casa em chamas. Vasculharam a área desesperados, andando entre os montes de entulho. Dan foi procurar no bosque. Precisavam encontrar alguma coisa em algum lugar para salvar Irina.
Lá de cima, Irina os observava. O teto estava tão quente que era uma agonia ficar de pé em cima dele. A fumaça às vezes lambia seu rosto. Ela se sentia muito longe deles. Como eram esperançosos. Ainda não sabiam que era tarde demais.
Metade do teto desmoronou numa chuva de faíscas. O fogo estalava, devorando as vigas de madeira. Ela recuou alguns centímetros, só lhe restavam alguns segundos. Tudo bem. Ela o salvara. Salvara seu querido menino.
Não, não é Nikolai. São Dan e Amy.
Ela lutou para manter a mente lúcida. A fumaça ardia em seus olhos, em sua garganta. Era um esforço enorme continuar de pé. Mas ela continuaria.
Na morte, ela seria uma pessoa melhor do que tinha sido em vida. Não era tão ruim para uma ex-espiã da KGB, muito menos para uma Cahill.
Olhe, eles ainda estão procurando uma vara, têm esperança de me salvar. Que bom ver isso. Pobre Alistair, ele nunca gostou de mim, mas houve uma única noite em Seul em que ele baixou a guarda e eu baixei a minha, e dividimos uma tigela de bibimbap. Uma tigela, duas colheres. Toda vez que eu batia a colher na dele sem querer, ele me acusava de estar flertando com ele. No fim, ele me fez rir...
Um pânico repentino tomou conta dela. Ela realmente estava pronta para deixar a vida? Havia um jeito de viver que não era o dela... ela tivera vislumbres desse outro jeito. Com Nikolai e... outras poucas pessoas. Que agonia era abrir mão da própria vida! Isso era abrir mão da possibilidade. De um sonho.
Espero que eles saibam que, para mim, valeu a pena, ela pensou, olhando para os irmãos Cahill. Lembrem-se do que eu disse, crianças. Tenham medo dela. Agora está tudo nas suas mãos.
O teto deu um estalo forte e um urro... e desabou por completo. Irina gritou ao sentir que estava caindo e olhou para cima. Queria que as estrelas fossem a última coisa que veria em vida.

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